O leitor deve estar se perguntando qual a
possível relação existente entre o financiamento empresarial das campanhas
eleitorais e as contas públicas? E respondo de plano: é a mais direta possível
e infelizmente intrinsecamente ligada à origem da corrupção que campeia o setor
público brasileiro.
AS EMPRESAS de um modo geral são quem
comandam esse país. O DNA do poder está nelas e o seu comando é diretamente
proporcional à quantidade de dinheiro investida em cada campanha eleitoral, ao
ponto de poucas empresas realmente terem acesso ao poder.
Essa promiscuidade legalizada e ocorrente
nas barbas de todos nós é um câncer que se espraia na administração pública, de
uma forma tão marcante, que em algumas prefeituras de nosso país, as empresas
que bancaram a eleição de dado candidato passam na prática a arrendar o ente no
período do mandato, sugando o dinheiro público de uma forma tão intensa, que o
bem comum é até mesmo olvidado no papel.
A ousadia de alguns empresários que compraram
os mandatos chega ao ponto de não haver qualquer cerimônia, acreditando terem
direito de saquear as verbas públicas e o despautério é tão grande que sequer
se preocupam em formalizar direito as licitações e contratos administrativos.
Outros mais comedidos colocam empresas que
formalmente não têm relação direta com a empresa que bancou a candidatura,
contudo quando se investiga, vê-se a ligação com o “dono dos porcos” como se
diz, pois sempre tem alguém que verdadeiramente manda e controla todo o agir
estatal para consecução dos contratos que lhe assegurem o lucro inimaginável no
mercado à conta dos contribuintes.
Portanto, quem pensa que as empresas doam
alguma coisa nas eleições ainda deve acreditar em Papai Noel ou Pinóquio, pois
o investimento feito nas campanhas é um grande negócio e mesmo com todos os
riscos, enfeitiça os empresários ao ponto deles esquecerem a possibilidade de
serem presos.
E essas afirmações podem facilmente serem
comprovadas, bastando que o leitor tenha o trabalho de verificar quais as
empresas que doaram nas campanhas, e verão que do início ao fim do mandato
sempre as mesmas aparecem como detentoras de contratos administrativos.
As investigações que acompanhamos
diretamente na mídia comprovam de forma clara essa ligação entre empresas que
investiram pesado em uma dada campanha e que através de contratos
superfaturados, muitas vezes sequer licitados, roubam literalmente o dinheiro
público, sangrando todo o povo brasileiro, que sofre dia a dia com a ausência
de políticas públicas que lhes assegurem o mínimo existencial.
Entretanto, o pior de tudo isso é ver que o
nosso povo aceita calado essa relação promíscua como se fosse algo normal e que
não tem mais jeito. Não podemos aceitar.
O que está faltando em cada um de nós é
capacidade de se indignar e ao mesmo tempo exigir posições mais firmes de quem
deve não só combater a corrupção, mas também de quem tem o dever legal e moral
de zelar pelas contas públicas.
E o que estamos vendo é justamente o
contrário. Quem deveria estar aplaudindo essa nova postura de lidar com os
verdadeiros criminosos desse país, se apega a filigranas jurídicas, criticando
um trabalho nunca visto de depuração da politicagem brasileira, pois não há
dúvida que toda essa corrupção está diretamente atrelada ao comando empresarial
que financia as eleições de norte a sul do país.
Herval Sampaio é juiz de Direito e
Professor. Editor do site www.novoeleitoral.com, Membro do MCCE e
MARCCO/RN