domingo, 15 de janeiro de 2017

Porque me orgulho de ser Apodiense

Por Marcos Pinto

Quando nos encontramos com conterrâneos em longínquas terras e lugares, ao primeiro contato e declarada a coincidência das nossas origens telúricas, o coração já se encarrega de uma aproximação quase coercitiva. Digo coercitiva porque essa afinidade é como que um imperativo sentimental comum a todos quantos tenham a felicidade de nascer em terras do nosso amado APODI. Mesmo diante diferenças políticas e ideológicas, predomina uma contagiante força catalisadora que nivela diferenças e reforça sintonias. É uma afinidade tão grande que tem forças de religião.

A nossa fértil serra teve o seu batismo toponímico feito pelo elemento colonizador com o pomposo nome de "SERRA PODY DOS ENCANTOS". Nosso município é o único lugar do mundo que tem 04 tipos de solos: Arenoso, Argilo-arenoso, argiloso e pedra. Nós apodienses perseguimos preás nas quebradas da imaginação. Recebemos, alvissareiros, as primeiras chuvas nos baixios da saudade, cavalgando sonhos pelas ladeiras da infância. Temos um linguajar autêntico e inconfundível. Nada de rebuscado, de artificial, de preciosista.

Tivemos um honrado conterrâneo (Na época em que nascera a cidade de Itaú pertencia ao município de Apodi), de nome Clementino Noronha, popularmente conhecido como Quelé, que era detentor da singularidade de vestir roupa totalmente branca, feita em linho caro, da marca Diagonal, e que desfilava garbosamente pelas ruas da nossa amada e nunca esquecida Apodi.

Por esse impecável modo no vestir, mesmo sendo de poucas posses econômicas, tinham-no como "metido a importante" - coisa que não procedia. Por apresentar esse perfil em seu modo de vida, sempre que alguém tido como economicamente pobre "inaugurava" uma roupa nova, e botava pose para chamar a atenção durante as festas da paróquia, ao passar nos arredores da Igreja-Matriz de São João Batista e Nossa Senhora da Conceição, de bate-pronto ouvia uma chacota de metido galhofeiro, que em alto e bom tom sapecava-lhe de forma provocante:

- "Só quer ser as pregas de Quelé!. Não precisa dizer que o "amostrado" acelerava os passos para sair, todo desconfiado, daquele "ambiente pesado" e cheio de ironias. Exportamos esse exponencial referencial para todo o Brasil, sendo certo que já foi até citado em um dos capítulos de uma novela da Rede Globo de Televisão. Por essas e outras minudências do nosso fértil rincão, é que ufano o peito e me orgulho em ser APODIENSE. Inté!.

Apodi de São João Batista e Nossa Senhora da Conceição, aos treze dias do mês de Janeiro de dois mil e dezessete.

Marcos Pinto - Comboieiro da Saudade e Aruá do pé da Serra Pody dos Encantos.

2 comentários:

Marcos pinto disse...


Nesse contexto sentimental apodiense, me vem à memória um lindo fato narrado por nossa distinta conterrânea Dodora S. Maia,intelectual de escol que, do ponto de vista do boçal dito metropolitano, protagonizou uma cena provinciana que beira as sublimes e benfazejas raias da matutice, mas que reflete um lindo bairrismo e um forte sentimento de irmão-siamês que nos une. Dodora encontrava-se em movimentada avenida da capital paulista, quando vê um conterrâneo se aproximando, ao longe, da parada de ônibus. Com o peito ofegante de tremenda alegria em ver um conterrâneo na azáfama paulistana, eis que Dodora se apressa para atravessar a movimentada avenida; Por muito pouco não foi vítima de atropelamento, pelo impulso de correr para abraçar um seu também alegre conterrâneo. Pela emblemática atitude da nossa sublime Dodora S. Maia, podemos encher o peito e afirmar, altivamente: Sim senhor ! – somos bairristas empedernidos com muito orgulho!.

Marcus Freire disse...

Marcos você é uma pessoa única, pois admiro muito seus comentários, és um filho que jamais esquece suas origens. Tive a oportunidade,(embora em um momento muito triste), de ouvir sua linda homenagem, na missa de corpo presente do meu primo e amigo o então saudoso JACINTO PAULINO. Aquelas palavras a respeito de uma pessoa, que de verdade era legítima, todas pronunciadas a respeito daquela pessoa. Com certeza eu viajei no tempo. Tempo esse de menino matuto lá nos anos 70, quando eu vinha das Melancias para a cidade do Apodi, na rural de JACINTO, fazia questão, pois na época era o único transporte daquela pequena comunidade, homem bom sincero, saudades do meu velho amigo Jacinto Paulino, eu Carlos Paulino, te admiro muito, amigo Marcos.