Se
os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso se
despirem dos discursos para a platéia e se reunirem num tête-à-tête, só os
dois, para indicar o nome do candidato a ser eleito presidente do Brasil numa
hipotética eleição indireta, ninguém tem dúvidas: será o ex-deputado,
ex-presidente do STF e ex-ministro de ambos, Nelson Jobim. Ele é hoje, de
longe, o mais habilitado a conduzir um eventual governo de transição até as
eleições de 2018, seja pelo trânsito entre as principais forças políticas do
país, a boa aceitação junto ao establishment econômico e a capacidade de
negociação com o Judiciário, condição hoje essencial para pacificação do
ambiente de guerra que se formou em torno da Lava Jato.
Nelson Jobim. |
Mas quantos votos
mesmo tem Jobim no baixo clero da Câmara? Poucos, o que o inviabilizaria se a
eleição fosse hoje, e é bom não perder de vista que, mal ou bem, justa ou
injustamente, esses serão os eleitores. O baixo clero e suas franjas votariam
no deputado Rodrigo Maia, cuja escolha parece duvidosa para tucanos e
peemedebistas. Investigado na Lava Jato, seria um tiro no escuro.
O tucanato, que
quase abandonou Temer logo após a delação da JBS e recuou para valorizar seu
cacife numa eventual sucessão indireta, tenta agora negociar um pacote que
contemple todos esses personagens – menos o PT, é claro, adversário em 2018.
Propõem uma chapa encabeçada pelo senador Tasso Jereissati, um respeitado e
experiente homem público, tendo Rodrigo Maia como vice, Jobim como ministro da
Justiça e, de quebra, mantendo Henrique Meirelles na Fazenda.
Seria um grupo
eficiente para conduzir a aprovação das reformas, mas dificilmente a
articulação vai vingar. Maia não tem por que concordar com ela, e desistir de
sua campanha, trocando a presidência da Câmara pelo irrelevante cargo de vice.
Jobim é, hoje, muito maior do que o cargo de ministro de quem quer que seja. E
a tigrada do PMDB não vota em Tasso.
Do outro lado da
praça, enquanto os aliados não resolvem essa equação, Michel Temer se debate
para sobreviver, rejeita qualquer hipótese de renúncia e se prepara para
convencer um ministro do TSE a pedir vista do processo de cassação da chapa no
dia 6.
Michel sabe que
está por um fio e que basta o desembarque do PSDB, a partir desse julgamento,
para que caia de fato, ainda que não imediatamente de direito. Mas os tucanos,
sob o risco de jogar o país no caos, só podem desembarcar quando tiverem a
equação da sucessão pronta, o que parece ainda muito longe. A aposta do
presidente é que não vão conseguir tão cedo.
Por Helena Chagas
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