Por Marcos Pinto
* À historiadora e genealogista
Conceição Medeiros
Os documentos
oficiais irrefutáveis revelam que devemos
um grande tributo aos portugueses, que
deixaram suas famílias e seus paradisíacos lugares,
trazendo consigo apenas um manancial de
sonhos e projeções futuristas para, com
coragem e determinação vencer em três
meses a longa travessia do oceano
atlântico, objetivando a ocupação do solo
e fixação das bases de civilização
nas inóspitas terras do sertão Oeste
potiguar.
Muitas das nossas
povoações ainda guardam no perfil
urbanístico as linhas clássicas do tipo
de povoação portuguesa. A rústica capelinha
emblematiza o núcleo inicial conhecido
como ”quadro da rua”, de onde
esgalhariam as ruas novas, os
becos e saídas que o desenvolvimento
posterior viesse a exigir.
Geralmente, apossavam-se
das imensas terras, antes ocupadas
pela indiada expulsa forçosamente à ferro
e fogo. Após fixarem o seu gado, formalizavam
o pedido de concessão das famosas
”Datas de Sesmarias”, que compreendiam a
doação de três léguas de comprimento por
uma de largura, em requerimento dirigido
ao Capitão-Mór gestor da então
Capitania do Rio Grande.
Alguns portugueses
já encontraram células iniciais de povoamento,
com currais instalados em terras já devidamente
demarcadas pelo agrimensor oficial. A maioria
das demarcações das ”Datas de Sesmarias”
da região Oeste potiguar foram realizadas
no ano de 1740 pelo português Domingos
João Campos, natural da Freguesia de
Nossa Senhora do Rosário do Campo, Bispado
de Viseu.
Três bravos
portugueses com o mesmo patronímico
familiar realizaram o processo de povoamento
de Mossoró e Apodi. Em Mossoró,
aportou no ano de 1750 o
Sargento-Mór Antonio de Souza Machado, oriundo
de São Bernardo das Russas, no Ceará,
e o também Sargento-Mór Sebastião Machado
de Aguiar, no mesmo ano, que povoou
as terras que atualmente compreendem o
município de Gov. Dix-Sept Rosado, antiga
povoação de São Sebastião de Mossoró.
Em 1760 o
português Alexandre Pinto Machado pisava as
terras do atual município de Apodi, sendo natural
da freguesia de São Miguel Arcanjo de
Caldas, do Bispado de Lamego, atualmente
denominado de São Miguel das caldas de
Vizela.
Os colonos
portugueses deram início a ocupação
da atual região Oeste percorrendo a
margem do rio Apodi, que nasce na
Serra de Luís Gomes, com extensão de
210 quilômetros, com sua foz entre as
atuais cidades de Grossos e Areia
Branca. É o segundo maior rio do
estado.
Nessa frente de
colonização o braço indígena foi usado
na derrubada da mata, nas roças e na
construção de primitivas Capelas.
Parte da
descendência do Sargento-Mór Souza Machado
estabeleceu-se nas praias cearenses, situadas
entre o morro de Tibau e o
município de Icapui. Entrelaçaram-se com as
famílias Reis, Rebouças, Rodrigues, Freitas etc.
A expansão
colonizadora redundou em novas fronteiras
alterando os limites do Rio Grande
com as Capitanias vizinhas. Um exemplo dessa
realidade foram as novas fronteiras entre
o Rio Grande com o Ceará. Houve
tempo em que a região do atual
município de Apodi era tida como
vinculada ao ceará, tendo o Rio
Jaguaribe como limite com o Rio
Grande, segundo historiadores cearenses.
Depois estabeleceram
o Rio Apodi como limite com o Ceará,
novamente com a então capitania do Siará
grande açambarcando terras da Capitania do
Rio Grande.
Com o passar
do tempo fixaram divisas do município
de Apodi com o Ceará ladeando os
municípios de Tabuleiro do Norte, Limoeiro e Alto
Santo.
Foram duas as
correntes de colonização da região Oeste
potiguar. Uma que vinha da Paraíba,
adentrando a então Capitania do Siará Grande
pela região lindeira, seguindo a antiga
estrada real, outrora vereda indígena, no
sopé da Chapada da Borborema, percorrendo toda
a região jaguaribana (Atual BR-116), contribuindo
decisivamente para o processo de
ocupação do solo a partir do ano de
1680.
A colonização das
terras dos atuais municípios de
Apodi e Portalegre contou, também, com os
efetivos empenhos dos portugueses Antonio da
Mota Ribeiro, Capitão João Antonio Nunes,
José de Paiva Chaves, natural de Vizeu,
Antonio Fernandes Pimenta (O 1º), Carlos Vidal
Borromeu, Clemente Gomes de Amorim.
Os portugueses
Manoel dos Santos Rosa e José Pinto
de Queiroz e Francisco Martins Roriz
povoaram os sertões da Serra do Martins,
referencial toponímico ao último português citado.
A outra corrente
de colonização portuguesa deu-se via Assu,
principalmente pela ostensiva presença do
famoso ”Terço dos Paulistas” (1698-1720) que
desembarcou na Capitania do Rio
Grande a 18 de Novembro de 1698,
com objetivo de combater a indiada
rebelde, protagonistas da célebre ”Guerra dos
Bárbaros”.
A medida que
iam expulsando os indígenas de suas
primitivas terras, os componentes do Terço
requeriam ditas terras sob a alegativa de
que com risco de vida descobrira
ditas terras, recebendo , assim, a concessão de
“Datas de Sesmarias”, ganhando por doação
três léguas de comprimento por uma de
largura.
Observe-se que só
a histórica família Nogueira Ferreira”, descobridora
e colonizadora inicial dos sertões do
Apodi em 19 de Abril de 1680
conseguiu sete “Datas de Sesmarias”, cada uma
medindo três léguas de comprido por uma
de largura. Dessa corrente colonizadora aportaram
em Apodi as famílias Cabral, descendente do
português Matias Cabral de Macedo,
radicado no Assu, e também a família
Pinheiro.
Há uma forte
conotação da marcante presença portuguesa
no processo de ocupação do solo da
atual Chapada do Apodi, contribuindo
decisivamente para o seu engrandecimento econômico
e social. Em estudos aprofundados, sempre
encontramos o inconfundível DNA desses indômitos
europeus a perlustrarem o nosso sagrado
rincão Oestano.
Inté.
Marcos Pinto é
escritor e advogado.
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