segunda-feira, 24 de julho de 2017

Um Brasil contrastante. Ainda bem

Por Marcelo Alcoforado

Ainda bem que existe um Brasil sem esses saqueadores empanturrados de dinheiro, essa chaga a cada dia mais purulenta.

Pena ser somente nas camadas dos menos favorecidos, dos joões-ninguém, dos sem eira nem beira, dos sem representatividade, que se encontram os melhores exemplos. Mesmo diante de tantas dificuldades cotidianas, frequentemente se verificam atitudes que dignificam o ser humano. Um modesto mecânico cearense, por exemplo, nos dá uma importante lição. Seu nome, José Ewerton Ribeiro, um anônimo, não corresse em suas veias um raro tipo de sangue, denominado Bombaim ou Falso O.

Há alguns dias, ele, lutador de jiu-jitsu, quase fazia uma tatuagem, mas pouco antes de fazê-la lembrou-se de que, como doador, especialmente de um sangue tão raro, estaria impedido durante um ano de fazer nova doação. E se alguém precisasse dele? – pensou. Parecia estar pressentindo algo.

Semana passada, alguém precisou. Alguém cuja vida, ainda no início, estava prestes a ser ceifada pela necessidade urgente do sangue Falso O, sim, o mesmo raro tipo de sangue do cearense José Ewerton Ribeiro, aquele que abrira mão do seu desejo de ser tatuado.

José Ewerton foi localizado pela Opas – Organização Pan-Americana de Saúde, a colombiana Ana Sofia, de apenas quinze meses de vida, recebeu a transfusão e, em um final feliz, foi salva. Um brasileiro pôde retribuir, enfim, a solidariedade de um povo que muito fez por nós quando do desastre da Chapecoense e que nos dá ainda mais, transmitindo uma valiosa lição: Medellín, cidade onde vive Ana Sofia, outrora tão marcada pela violência, hoje é dedicada a festejar a vida. Enquanto isso, no Brasil, a sede continua. Não a do benfazejo Falso O, mas a do fim dos falsos salvadores da pátria, dos falsos honestos, dos falsos heróis, enfim, que com sua impostura têm sugado o sangue dos brasileiros que trabalham honestamente e fazem o bem.

Como José Ewerton Ribeiro, o modesto mecânico do Ceará.

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