Por Bruno Coriolano
"Como receberia uma intervenção? De um único modo: à
bala!"
(Floriano Peixoto)
Uma rápida pesquisa no Google e notamos um número bastante
considerável de avenidas e ruas com o nome de Marechal Floriano Peixoto, ou
simplesmente Floriano Peixoto. São Aproximadamente 603.000 resultados para
“Avenida Marechal Floriano Peixoto” e mais 700.000 resultados para “Rua
Marechal Floriano Peixoto”. E ainda temos cidades com o nome Marechal Floriano
ou em referência ao mesmo.
A máxima “brasileiro tem memória curta” poderia ser uma boa
explicação para tantas honrarias para tal figura histórica brasileira. Na
verdade, poderíamos dizer mesmo que brasileiro, a grosso modo, desconhece sua
própria história, ou, na melhor das hipóteses, confia na primeira coisa que lhe
dizem.
Tal assunto poderia ser de pouquíssima relevância, afinal,
quem iria querer levantar tal questão sobre um sujeito que morreu há 123 anos?
O fato é que, considerando o atual momento da história
brasileira, nosso personagem entra para a mesma como o primeiro vice-presidente
a assumir a República Federativa do Brasil. Isso mesmo, muita gente sabe que
Floriano Vieira Peixoto, nordestino nascido em Maceió, foi presidente do
Brasil, sem vice-presidente. O que talvez muita gente não saiba, e ninguém tem
obrigação de carregar tal informação consigo, é que o mesmo Floriano foi, na
verdade, o primeiro vice-presidente também, assumindo o cargo de chefe de
governo e chefe de Estado do maior país em extensão territorial da América
Latina. Logo, não vá pensando que Michel Temer foi o primeiro vice-presidente
do país a aplicar um golpe e assumir a presidência. A história do brasil é bem
mais recheada do que a TV e as páginas do Facebook andam lhe contando.
No dia 23 de novembro de 1891, um homem descrito pelo
escritor, tradutor e ilustrador Paulo Schmidt como um “homem de hábitos
frugais, baixo, franzino, lacônico e impassível como seus ancestrais índios”
assume o cargo máximo de líder dos brasileiros. Até aí nada de anormal, mas já
nas suas primeiras atitudes antes do famoso golpe militar, sem participação
popular, que primeiro derrubou a monarquia brasileira e forçou o exílio
imediato do Imperador Dom Pedro II e sua família, e que depois viria a
consolidar o episódio patético que conhecemos como PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA, se
mostrara um completo covarde.
Floriano Vieira Peixoto, ajudante-general do exército brasileiro,
traiu o primeiro presidente, O Marechal Deodoro da Fonseca, que hoje não passa
de efígie na moeda de 25 centavos da segunda geração de moedas do Real e que
também não fora eleito pelo povo presidente do Brasil, aliando-se ao Partido
Republicando Paulista, partido que viria a sofrer traição dele mais tarde,
quando o novo presidente da república resolveu contrariar os ideais da legenda
e centralizar o governo em torno de si próprio e não ceder autonomia aos
estados brasileiros, que compunham a república federativa, o que dava
legitimidade ao nome oficial da nação.
Se tivesse parado por aí, Floriano Peixoto, sobretudo se
considerarmos as atrocidades que seu antecessor e quase todos os sucessores
viriam a cometer, poderia até ser considerado um santo. Santo não, um cavaleiro
do apocalipse, no melhor dos cenários. Floriano tentou introduzir na política
nacional uma figura que nunca existiu – e que até o ano de 2017 ainda não
existe – de salvador da pátria. Autocrata, deteve todo o poder pela força, sob
a desculpa de proteger o país contra inimigos que só existiam em sua cabeça
desajustada.
Como um verdadeiro autoritário, Floriano tentou regular
todos os aspectos (economia, cultura...) da sociedade brasileira, chegando
inclusive a determinar, em 1892, que a festa do carnaval fosse transferida para
o mês de junho. A justificativa do grande sábio em questão era que a grande
concentração de pessoas aumentava o risco de epidemias. Vários artigos de
jornais da época traziam a revolta dos jornalistas, que alegavam que o novo
presidente não queria a alegria do povo.
Isso tudo não foi nada comparado ao não comprimento do
artigo 42 da primeira constituição republicana brasileira (ortogada em 1891),
que versava sobre novas eleições para presidente da república, caso o presidente
renunciasse antes de dois anos*. O que acontece é que o presidente que
antecedera Peixoto, o já mencionado Deodoro da Fonseca, renunciara no dia 23 de
novembro de 1891. Mas Floriano assumiu e permaneceu no cargo, alegando que “a
própria constituição abria uma exceção, ao determinar que a exigência só se
aplicava a presidentes eleitos diretamente pelo povo, assumindo assim o papel
de consolidador da República”, assim, anulando o decreto de dissolução do
Congresso, além de trocar os governadores que apoiavam Deodoro.
O que sabemos hoje é que a única coisa que ele consolidou
foi a perpetuação do próprio autoritarismo na política brasileira. As grandes
marcas de tal crápula são perceptíveis na sua promoção de violência, desprezo
pelas leis e pela democracia, atitudes completamente contrarias aos valores
prometidos pela República.
Floriano Peixoto então permaneceu por 2 anos e 357 dias no
cargo de presidente, enfrentando a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul
com mão de ferro, o que, a grosso modo, o rendeu o único título que mereceu
receber, “Marechal de Ferro". Título, na verdade, que não passava de um
apelido pejorativo e que lhe rendeu a homenagem forçada de renomear a cidade
catarinense Desterro (Originalmente denominada "ilha de Santa
Catarina") para Florianópolis, belíssima cidade que não lembra em nada o
Marechal de Ferro.
Lógico, nomear uma avenida com o nome de um herói nacional
como este é um ato de grandeza. Mas pelo menos agora você já sabe quem foi
Floriano Peixoto. Para não alongar ainda mais o texto, resumo logo abaixo
algumas curiosidades sobre o Marechal de Ferro.
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