A grande frase de
2017, "Tem
que manter isso, viu?", proferida pelo presidente Michel Temer ao
ouvir de um amigo poderoso que este estava subornando um deputado preso para
impedir que o dito deputado contasse os podres que sabia sobre eles, costuma
ser classificada como "pouco republicana". Nem todos entendem o
significado dessa expressão. Sabem vagamente que tem a ver com
"República", que entendem como uma forma de governo oposta à
monarquia. Pode ser, mas, no caso, aplica-se à "res publica", a coisa
pública, aquilo que diz respeito a todos nós.
Ao afirmar
"Tem que manter isso, viu?", a autoridade está endossando um
cala-boca para encobrir o esclarecimento de crimes contra o interesse público
—crimes que, em primeira e última análise, desviam dinheiro destinado a ocupar
os 20% de brasileiros entre 14 e 29 anos que não estudam nem trabalham,
abastecer de gaze e esparadrapo os hospitais públicos e devolver as ruas do
Brasil aos seus cidadãos.
Daí a vergonha de
muitos outro dia ao constatar que dependemos dos EUA para cuidar dos nossos
criminosos. Ao levar apenas dois anos para investigar, julgar, condenar
e prender o ex-presidente da CBF José Maria Marin, os americanos nos
deram uma aula do que entendem por "res publica". Por ser uma decisão
em primeira instância, cabe recurso —mas Marin foi preventivamente engaiolado,
para não restar dúvida de que não fugirá para o Brasil, onde passaria o resto
de seus dias assobiando no azul.
Como, aliás,
acontece com a maioria dos nossos ex-presidentes e atuais governadores,
deputados e senadores soterrados por montanhas de processos e que, graças às
leis brasileiras, apostam que seus crimes cairão de maduros antes que se chegue
a uma decisão.
Decisão esta que, caso os desfavoreça, sempre terá um juiz leniente a anulá-la.
Ruy Castro – Folha de S.Paulo
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